Cantor, compositor e arranjador, o músico inglês Mike Lindup deixou a marca registrada de seu enorme talento em uma das maiores bandas dos anos 80, o Level 42.
Nesta entrevista exclusiva ao The Music
Journal Brazil, diretamente de Londres, Lindup fala de sua relação com
os integrantes da banda, o inicio de carreira, seus projetos e sua
enorme paixão pela música brasileira. Acompanhe:
Marcelo de Assis: Mike,
o Level 42 chegou a trinta anos de carreira. Como tem sido o
relacionamento entre vocês, tanto pessoalmente quanto profissionalmente?
Mike Lindup: Quatro caras (Eu, Mark King, Phil Gould e Boon Gould) decidimos começar uma banda no final de 1979 e a idéia original era escrever músicas instrumentais inspiradas no Mahavishnu Orchestra, Return to Forever, Miles Davis, James Brown, Stevie Wonder, Herbie Hancock, Cream, Airto Moreira e Jimi Hendrix.
Descobrimos cedo que para conseguir o nosso primeiro contrato de
gravação tudo o que precisávamos era converter um de nossos
instrumentais em uma canção, que foi “Love Meeting Love”. Nós gravamos e lançamos esta música em uma gravadora independente no norte de Londres, em maio de 1980.
Esse foi o começo. Pouco depois a
Polydor nos deu um contrato, mas não tínhamos idéia de que iríamos
gravar futuramente mais de 15 álbuns ao longo dos próximos 30 anos e
tocar em concertos para milhares de pessoas em todo o mundo.
Marcelo de Assis: E como tem sido a turnê em comemoração destes trinta anos?
Mike Lindup: A turnê do
30 º aniversário no ano passado foi fantástica, e nós temos esta
gratidão em subir ao palco e apresentar as músicas que gostamos de
tocar e ver que as pessoas continuam a comparecer e se divertir em
nossos shows. Voltamos para o Japão e EUA após uma longa pausa e foi
como uma volta ao lar, tocar em lugares de diferentes dimensões com um
grande som e intimidade para o público que estava esperando pelo nosso
retorno desde 1987 nos EUA e 1994 no Japão.
Marcelo de Assis: O
Level 42 sempre mostrou uma proposta musical bem diversificada, com
elementos do funk e do jazz desde o início de suas atividades nos anos
80. Como foi definida essa fusão entre vocês?
Mike Lindup: Nós
crescemos ouvindo Jazz, Funk, Soul, Rock, Reggae, ou seja, toda uma
diversidade de estilos que estava sendo tocado nas radios ou encontrados
na lojas de discos em nossa juventude. Mark King era originalmente um
baterista, e quando eu o conheci eu também estava tocando bateria em uma
banda na faculdade de música. Então em vigor, haviam três bateristas na
banda, apesar de Mark também tocar baixo e eu teclado, por isso
estávamos sempre interessados no “Groove”, seja qual for o estilo da
música que estávamos inseridos – nós amamos ouvir Miles Davis, ou James
Brown, ou Fela Kuti, ou Herbie Hancock, com quem escrevemos 15 ou 20
minutos de música com o mesmo “Groove” – assim lá foi o funk , e então é
claro que você ouviria solos por cima do “Groove”, no sax e teclados. E
também por isso não foi só o jazz. Em nossa primeira gravação, Phil
Gould trouxe um grande tecladista e compositor, Wally Badarou, de origem
franco-africano e ele tornou-se um membro permanente quando estávamos
no estúdio em todos os nossos álbuns, e ele trouxe a sua sensibilidade e
os sons africanos em nossas gravações.
Marcelo de Assis: Miles Davis foi uma influência e tanto no início de sua carreira, não é mesmo?
Mike Lindup: Sim, muito. Álbuns como “Jack Johnson, Bitches Brew, In a Silent Way”,
foram influências muito poderosas sobre nós quando estávamos começando.
A forma como Miles reunira diversos talentos para o estúdio, como Tony Williams, Keith Jarrett, Wayne Shorter, Chick Corea, Ron Carter, Billy Cobham, Joe Zawinul e John McLaughlin, que era música experimental realizada por alguns dos maiores músicos de sua idade, era uma poderosa influência para nós.
Marcelo de Assis: Em 1985 vocês lançaram o álbum “World Machine” que foi muito bem recebido pela crítica especializada e pelo público. A canção “Something About You” fez sucesso em todo o mundo. Me fale como foi aquele momento…
Mike Lindup: Para este
álbum, levamos um tempo maior de preparação das canções do que
anteriormente (às vezes íamos para o estúdio com apenas metade do álbum
escrito). “World Machine” foi o primeiro álbum que nós mesmos produzimos
junto com Wally. Então não havia alguma pressão durante a gravação que
dividimos com o nosso empresário inicial John Gould, que teve que
enfrentar algumas dúvidas da Polydor sobre a qualidade da música. Mas
quando o álbum foi lançado, foi um prazer que ele saiu tão bom quanto
nós poderíamos ter esperado. “Something About You” foi
uma música que quase não consegui terminar e durante a gravação não
parecia estar tão boa quanto a demo, mas depois de algum trabalho extra e
um conjunto brilhante de letras de Boon Gould, ganhou vida e quando os
vocais foram cantados e arranjados, aí finalmente soou grande. Claro,
isso não era garantia de que ele seria bem sucedido, por isso ficamos
muito satisfeitos que se tornou uma das nossas maiores conquistas.
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Marcelo de Assis: Podemos dizer que foi inevitável que o som do Level 42 ficou mais pop depois de “World Machine”. O foco era esse?
Mike Lindup: Nesta
oportunidade, tivemos realmente de nos tornarmos compositores, e
estávamos interessados em criar canções pop que vem da nossa experiência
como músicos de jazz, funk e fusion rock.
Marcelo de Assis: Mike,
você sempre deu uma enorme contribuição as composições do Level 42,
tanto nos arranjos dos teclados como na voz. E Mark King deixa sempre
uma marca registrada do estilo jazzístico que ele imprime nas canções.
Podemos dizer que você e Mark são a alma da banda…
Mike Lindup: Isso é
muito gentil de sua parte, mas acredito que uma banda é a combinação de
todos os elementos envolvidos. Obviamente, sendo os cantores, somos a
“voz” da música e o incrível talento de Mark como um baixista deixa uma
marca grande no som da música.
Marcelo de Assis: Falando em sua carreira-solo, no álbum “Changes” que você lançou em 1990, na canção “Passion”
pode-se considerar que o título é uma clara referência do seu
sentimento pela música brasileira? Alias tem uma leveza de um samba que
lembra muito Sérgio Mendes & Brazil´66…
Mike Lindup: Em 1985 eu
estava andando no centro de Londres e ouvi o som de uma batucada, como
eu nunca tinha ouvido na vida. Descobri que havia uma “Escola do Samba de Londres”
tocando, e assim eu tinha de saber mais a respeito daquilo, e acabei
tocando com eles no Notting Hill Carnival por 2 anos consecutivos,
(tocando Reco Reco e, no ano seguinte, Surdo). Quando eu estava
escrevendo as músicas para “Changes”, eu queria expressar meu amor pela
música do Brasil que teve uma influência tão grande em minha vida, como
um agradecimento para ela. E desde então tem sido um sonho em ir para o
Brasil um dia, e eu ainda vou esperar para torná-lo realidade.
Marcelo de Assis: E por falar nisso, como foi o seu primeiro contato com a música brasileira e sua paixão por ela?
Mike Lindup: Eu tive
uma conexão com a música brasileira desde quando eu tinha 3 anos, quando
eu ouvi pela primeira vez “Desafinado” em nosso toca-discos, e mais
tarde meu pai tinha uma gravação em seu carro, com Astrud Gilberto.
Eu adorei a voz dela e qualidade assombrosa de sua música. Mais tarde
descobri que havia muito mais da música brasileira e alguns amigos meus
da América do Sul tinham uma banda em Londres na década de 80 chamada
“Sambatucada” e eles me apresentaram gravações dos sons afro-brasileiros
e suas composições… Mais tarde descobri alguns dos grandes artistas do
movimento “Tropicália”.
Marcelo de Assis: Quais são os músicos brasileiros de sua preferência?
Mike Lindup: Eu amo Airto,
Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti, Gal Costa, Maria Bethânia, Gil, Nana
Vasconcelos, João Gilberto, João Bosco, Milton Nascimento, Caetano, Ivan Lins, Tom Jobim…
Marcelo de Assis: Você tem um projeto chamado “Da Lata”… conte-nos sobre ele.
Mike Lindup: Era um projeto de dois amigos meus, Chris Franck e Nina Miranda e quando entrei em 1999, um outro amigo meu era o vocalista, que eu havia conhecido na Escola do Samba de Londres, Liliana Chachain.
A música tinha muito ritmo afro-brasileiro com composições originais
mesclando R&B mais tarde. Toquei teclados e fui backing vocal
cantando em português com a banda durante um período de cinco anos. Mas,
em seguida, Chris e Nina decidiram colocar o projeto no armário por
tempo indeterminado – e eu espero que ele seja um dia revivido.
Marcelo de Assis: No seu trabalho-solo “Conversations With Silence” você compôs a canção “Brasil 2000″. Qual foi a sua inspiração para esta composição e qual a razão do título?
Mike Lindup: Foi
escrita no ano 2000 e havia alguma expectativa sobre o que o novo
milênio traria para o mundo. E eu queria escrever um samba! Não há um
grande mistério …
Marcelo de Assis: Você lançou um novo EP “On The One” onde a canção-título tem um toque e tanto de R&B. A proposta deste novo trabalho é caminhar por outros horizontes musicais?
Mike Lindup: Eu meio
que voltei para as raízes da minha alma ao compor este EP, como Al
Green, Stevie Wonder, Marvin Gaye e James Brown. Esta é a música que eu
cresci ouvindo, antes de Level 42 e parecia como se eu quisesse dizer
recentemente como um artista necessita de sua “alma” central. Eu cresci
em uma casa que estava cheia de variedades musicais e meus pais, que
eram músicos desde cedo, tinham uma coleção de álbuns que variavam de
Miles Davis a Yehudi Menuhin, de Tschiakovsky a Stan Getz, dos Beatles a
Pete Seeger, de Bob Dylan a Simon e Garfunkel, de Laura Nyro a Aretha
Franklin e, então, é normal e natural para mim atravessar diferentes
estilos. É apenas o mesmo que um artista atavessando entre uma aquarela e
uma escultura de óleo, cerâmica e fotografia.
Marcelo de Assis:
Atualmente a indústria da música está em franca transformação. Muitos
artistas criaram seus próprios selos e se desvincularam das grandes
gravadoras. A música passou a ser digital e as vendas de CD´s caem
vertiginosamente em todo o mundo. Como você observa este cenário e como
você imagina o futuro da música?
Mike Lindup: É uma
grande questão e eu não sei as respostas, exceto para dizer que tudo
mudou a partir de quando eu entrei neste negócio da música. Eu estou
tentando encontrar meu caminho em novas possibilidades. Em alguns
aspectos é melhor que as grandes empresas já não estejam ditando quem
fará sucesso, mas você precisa de uma plataforma, como um artista,
especialmente quando você está começando. Alguns dos jovens talentos
estão realmente usando muito bem a internet e eu acho que nós precisamos
encontrar novas maneiras de ganhar a vida sendo músicos e compositores e
isso eu faço, com certeza. Pelo menos o valor da performance ao vivo se
mantem alta.
Marcelo de Assis: O
Level 42 tem muitos fãs no Brasil e você é um amante da música
brasileira. Então Mike, o que está faltando para o Level 42 se
apresentar no Brasil?
Mike Lindup: O convite certo!!!!
Marcelo de Assis: Mike, muito obrigado pela sua entrevista e como um profundo admirador de seu trabalho, espero ter
a oportunidade de vê-lo aqui no Brasil e agradeço também pela sua contribuição e divulgação de nossa música em outros países!
a oportunidade de vê-lo aqui no Brasil e agradeço também pela sua contribuição e divulgação de nossa música em outros países!
Mike Lindup: Obrigado pela oportunidade de explorar o meu amor pelo Brasil e sua música.
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