segunda-feira, 30 de junho de 2014

Entrevista com Luiz Schiavon do RPM

Ele fez parte de uma das maiores bandas de rock do Brasil que conquistou o público e fez grande sucesso nos anos 80. Compositor e arranjador, Luiz Schiavon deixou a marca registrada de seu enorme talento e versatilidade em grandes canções do RPM como “Olhar 43″, “Radio Pirata” e no instrumental “Naja”.
Nesta entrevista concedida ao The Music Journal Brazil, Schiavon fala sobre o retorno do RPM, seu trabalho com Fausto Silva, suas influências musicais e sobre o novo álbum. E ainda nos revela: o RPM estará no Rock In Rio 2011! Acompanhe:
Marcelo de Assis: Schiavon, o RPM volta á cena musical neste ano?
Luiz Schiavon: É absolutamente certo que sim. Estamos em estúdio desde janeiro, temos 70% do album já pronto e começaremos os ensaios para show em 2 semanas.
Marcelo de Assis: O que os fãs poderão esperar do novo álbum?
Luiz Schiavon: Bom, é uma pergunta difícil. Todo artista faz seu máximo em cada trabalho e estamos fazendo isso. É um álbum bem “RPM”, com teclados, sequencers, riffs de guitarra, letras com conteúdo. Mas também está up-to-date, não é oitentista. Acho que mantivemos o espírito da banda numa visão atual e ao mesmo tempo madura.
Marcelo de Assis: Vocês estarão no Rock In Rio?
Luiz Schiavon: Com certeza !
Marcelo de Assis: A homenagem feita ao RPM no especial da TV Globo “Por Toda Minha Vida” foi o que impulsionou o retorno da banda?
Luiz Schiavon: Não digo que tenha sido o fator principal, mas foi uma espécie de estopim. Já vínhamos conversando sobre um retorno definitivo desde 2008, mas compromissos individuais dificultavam as coisas. O programa nos deu a dimensão do que é realmente o RPM e decidimos voltar pra valer.
Marcelo de Assis: Como foi sua experiência trabalhando no “Domingão do Faustão”?
Luiz Schiavon: Foi uma das melhores coisas da minha carreira. Pra começar o Fausto é um gênio. Recebe muitas críticas que considero injustas. As pessoas não tem a percepção de como é difícil vc sozinho encarar um programa ao vivo de 4 horas. Tem que ter muito jogo de cintura, pensar muito rápido. No gravado é fácil, errou volta. Ao vivo a coisa pega, e ele é mestre nisso, além de ser, fora do palco, uma das pessoas mais bacanas que conheci.
Mas como dizia, foi uma das melhores coisas da minha carreira. Me deu um timming de TV que é difícil ter. Saber qual câmera está em você sem precisar olhar, acertar o “tempo” de uma piada ou de uma resposta. Além disso a banda era composta por alguns dos melhores músicos do Brasil e é uma escola no dia-a-dia.
Me deu também uma experiência em ser um músico eclético. Num dia tocamos mambo, no momento seguinte rock, depois sertanejo, etc. Muito bom mesmo !
Marcelo de Assis: Você é um dos maiores músicos brasileiros. Quais foram suas influências musicais?
Luiz Schiavon: Não me considero um dos maiores músicos brasileiros, embora agradeça o elogio. Acho que minha maior virtude é ter um dom para arranjo e composição. E, apesar da formação em piano erudito, gosto muito de tralha eletronica. Talvez meu maior mérito tenha sido popularizar o uso da eletrônica em shows e gravações. Minhas influências foram, no Brasil, Egberto Gismonte, Cesar Camargo Mariano, Zimbo Trio. De fora, Tony Banks (Genesis), Rick White (Pink Floyd), Brian Eno, Walter-Wendy Carlos, Giorgio Moroder. Claro que as pirotecnias do Keith Emerson e do Rick Wakeman também influenciaram, mas prefiro a nota certa, bem colocada, que um zilhão de fusas “difusas”, se permite o trocadilho. E os grandes nomes do Jazz, especialmente Oscar Peterson, Count Basie, Thelonius Monk.
Marcelo de Assis: Schiavon, como você avalia hoje o interesse do brasileiro pela música instrumental?
Luiz Schiavon:  ZERO, infelizmente. Isso é uma coisa que me deixa chateado. Quando era jovem, com 20 e poucos anos, vc ia ao auditório do Anhembi e via 3 mil pessoas assistindo o Egberto. Por esse tipo de influencia fizemos Naja que chegou ao top 5 das rádios !
Hoje isso acabou e a música instrumental brasileira, que sempre foi uma das melhores do mundo, vem definhando. Nossos grandes músicos tem que ir para o exterior para viver onde, em geral, são reconhecidos e acabam tendo que permanecer por lá. Mas não é só na música. Vivemos um momento de emburrecimento cultural que é reflexo de políticas públicas tacanhas e até mesmo, ouso dizer, mal-intencionadas.
Marcelo de Assis: Um certo dia, o RPM estourou em todas as rádios do Brasil. Depois inúmeras aparições na TV e grande shows… como foi lidar com todo esse sucesso?
Luiz Schiavon: Lidar com o sucesso é difícil, mas lidar com o fracasso é bem pior ! Hehehehe
Marcelo de Assis: Me lembro bem quando ouvi o instrumental “Naja” pela primeira vez e vi pela tv, em um show do RPM, a imediata reação positiva da platéia… hoje não temos mais este tipo de trabalho no rock nacional. Como você classifica essa mudança ao longo dos anos?
Luiz Schiavon: Isso está mais ou menos respondido na pergunta anterior. Além disso, lamentavelmente, o músico médio de rock da atualidade é meio fraquinho. Imagino os coloridinhos de hoje tocando Burn do Deep Purple! Heheheh !  Ia ser hilário !
Marcelo de Assis: Certamente você foi um dos primeiros músicos no Brasil a utilizar o lendário (sintetizador) Fairlight. Você ainda usa ele em seus projetos?
Luiz Schiavon: Acho que fui o único, não lembro de nenhum outro maluco gastar U$ 118.000,00 num instrumento. Hoje ele está aposentado. Mas tenho mantido contato com o Peter Vogel, projetista do Fairlight, que está prestes a lançar o CMI 30A e, logicamente, estou na fila de espera. Como ex-proprietário fui convidado para um test-drive depois do lançamento oficial.
Marcelo de Assis: O que você tem escutado atualmente?
Luiz Schiavon: Cara, eu escuto de tudo, de Lady Gaga a Marvin Gaye, passando por jazz, samba e sertanejo. Como disse esse período no Domingão me auxiliou a ser menos preconceituoso e mais eclético. Música boa é música boa.
Quando falei que gostava da Calypso quase me mataram. Só quando o Herbert Vianna falou que o Chimbinha é um dos maiores guitarristas e o comparou ao Mark Knopfler é que neguinho parou pra ouvir. Eles são geniais no segmento onde trabalham. Preconceito é uma merda, seja de cor, religião ou mesmo musical.
Marcelo de Assis: Schiavon por Schiavon:
Luiz Schiavon: Um cara do bem, que adora a família, os amigos e o RPM.
Marcelo de Assis: Schiavon, muito obrigado pela sua entrevista e pela sua inestimável contribuição ao rock brasileiro!
Luiz Schiavon: Sou eu que agradeço por terem me aguentado nesses 35 anos de carreira ! Valeu !!

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